sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um vírus: o fim de namoro - relato



Primeiro momento: Afastamento do Namorado - A reação inicial do meu namorado foi muito boa, para minha grande surpresa. Como disse recentemente para um amigo, o HIV não é um bicho de sete cabeças, mas deve ter pelo menos cinco. No dia seguinte tudo fluiu relativamente bem. Após 12 horas de cerveja ele veio dormir na minha casa. Tentei cuidar dele, pois sei que este momento é difícil: o "cair a ficha". "- Eu te entendo, mas você podia ter me falado antes. Seria mais fácil. Agora estou envolvido." Durante esses dois meses de namoro tive a ciência de que ele já havia rejeitado dois relacionamentos anteriores em função do HIV. Logo no primeiro momento que soube disso pensei em me precipitar e terminar logo. Seria uma ação racional para evitar o sofrimento de também ser rejeitado. Tenho medo do futuro. Ele tem se distanciado de mim. Entendo que é um momento necessário para a elaboração. Entendo que sua cabeça esteja a mil. Quero ele. Quero dormir no seu pescoço, fazer piadas, rir junto, fazer tudo que fazíamos. Mas tenho um vírus que assusta, afasta e me joga dentro da bolha. "- Não te prometi nada. Te prometi tentar, e tô tentando." Tenho hoje uma mista sensação de alivio e medo. É estranho passar por isso. Queria adiantar um pouco esse DVD de minha vida e saber o que vai acontecer. Percebo que ele se sentiu traído pela minha omissão. Eu me sinto péssimo em pensar nisso, mas só Deus sabe como foi difícil pra mim omitir esse fato. Parece que perco um pouco da nossa relação e entrego a ele a difícil decisão de superar as barreiras de seus medos, nosso destino. Segundo Momento: O Medo - Um vazio que traz um sentimento de inferioridade . Me sinto Menos, à margem. Me sinto Pouco. No fundo sei que não devia me sentir assim, mas é como se brotasse dentro de mim esse sentimento. Como uma planta que aos poucos deixa de ser regada e vai morrendo lentamente. É uma das piores sensações que alguém pode sentir. Peço a Deus que me ajude. Estou fraco, e não consigo fingir mais. Não dá pra fingir que estou bem, mas me demonstrar mal pra ele é como se o convidasse para entrar num jogo cruel: o apelo sentimental. Palavras como: "- Você seria meu amigo? Eu não quero te perder." Já apontam o caminho. Quero colo. Terceiro Momento: O Fim - O mais difícil é saber o poder nocivo do HIV; atrás dele: promessas, sonhos, canções, momentos, entrega. É como se o vírus contaminasse uma história. Ela morre antes mesmo de ser escrita. Espero que a vida te proteja de si mesmo. Te desejo luz e que Deus ilumine seus passos. Adeus Gato!

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